quarta-feira, 28 de maio de 2008

A História bem na Foto - 8 > Conteúdo

Neste A História bem na Foto - 8:
Ronaldo Theobald > O Deus de calção e chuteira
Georges Racz > O nascimento de uma paixão
Héctor Etchebaster > Homenagem no mar
Januário Garcia > Marcas do tempo
Luiz Carlos David > Asa-delta sobre o Cristo

Acesse por aqui a série completa:
A História bem na Foto
A História bem na Foto - 2
A História bem na Foto - 3
A História bem na Foto - 4
A História bem na Foto - 5
A História bem na Foto - 6
A História bem na Foto - 7
(ou veja, ao final, a relação dos participantes).
Este blog segue o padrão “livri”, isto é, tem número limitado de postagens
e é editado para leitura de cima para baixo.
Foto do título: Bandeiroso, Aguinaldo Ramos, 2001

Ronaldo Theobald > O Deus de calção e chuteira

Em um domingo lindo, no mês de maio de 1977, fui escalado pelo editor de fotografia do JB para a cobertura da partida de futebol que seria realizado no estádio da Portuguesa, na Ilha do Governador, entre as equipes do Vasco da Gama e da Portuguesa.
Naquele dia, no momento em que a equipe do Vasco saía do vestiário e caminhava em direção ao campo, passava por um túnel feito de telas, onde os torcedores se comprimiam junto ao gradil de tela e estendiam suas mãos para tocarem seu ídolo. Parecia uma cena bíblica, algo mágico.
Fiquei observando como ia registrar aquele momento. No intervalo da partida me coloquei, discretamente, deitado no chão do túnel e aguardei a entrada dos jogadores um a um. A medida que eles retornavam para o segundo tempo ia dando meus clicks. Meu alvo era o Roberto Dinamite, o ídolo da torcida, e ai surge, caminhando, o GRANDE ÍDOLO, Roberto Dinamite. Mãos tentam tocá-lo, eu disparo minha câmera, sabendo que ali "estava a mais bela foto da minha vida".





Com ela ganhei vários prêmios nacionais e internacionais, entre eles o maior prêmio do jornalismo brasileiro O PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO.
Quando comentei que deitei no chão foi exatamente para evitar que outros fotógrafos percebessem o que eu estava fotografando (só o Globo, nosso concorrente, estava com seis “daguerreotipistas” (*), eu tinha que driblá-los). Nenhum "coleguinha" me viu, se viu não teve curiosidade. Dei uma de Garrincha, um daqueles dribles fantásticos.
Na segunda-feira, foi a única fotografia da PRIMEIRA PÁGINA do JB.


Fiz um pôster e dei ao Roberto. Ele está em destaque na sua residência, e sempre se deixa fotografar ao lado dele, e no seu retorno ao Brasil do futebol espanhol era sua única bagagem de mão. Roberto inclusive declarou que é "seu maior troféu".

Ela é histórica porque é uma foto raríssima, sintetiza o jogo e o público e retrata o DEUS de calção e chuteira. Como a grandiosidade dos estádios este contato é impossível atualmente.
Considero a mais bela fotografia da hístória do futebol (me perdoe pela falta de modéstia). Segundo o comentário de Marco Caetano, publicado no Pasquim, Roberto parecia um santo, um beato, um São Francisco do Mestre Vitalino. Uma foto assim diz mais sobre a carreira de um ídolo do que as poses com taças e faixas. A maior conquista do craque no estádio da Ilha.

(*) Alusão ao daguerreótipo (primeiro processo fotográfico apresentado ao público, em 1839, por Louis Daguerre, na França), sugerindo, ironicamente, o anacronismo dos concorrentes...

Ronaldo Theobald > Comecei na Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, em 1953, onde me profissionalizei. Em 1957 fui convidado a participar daquela fantástica equipe de fotojornalistas do Jornal do Brasil, formada por Hélio Pontes, editor. Fiz muitas coberturas internacionais, como a Copa da Alemanha e da Argentina, em 74 e 78; a Olimpíada de Montreal, em 76; a despedida de Pelé do KOSMOS, em Nova York; Fórmula Um, quando ainda tínhamos o grande Emerson Fittipaldi, na Argentina também; na Colômbia, em 82 e 84, o Campeonato Mundial de Basquete, na Argentina o Campeonato de Vôlei. Em 1969, acompanhei as eliminatórias da Copa de 70 na Colômbia, Venezuela e Paraguai, quando João Saldanha apelidou a seleção de “as feras do Saldanha”.Com a fotografia de Roberto Dinamite no estádio da Portuguesa ganhei o Prêmio Esso de Jornalismo, o concurso Internacional da Nikon e primeiro lugar no prêmio da Federação de Futebol. Tenho mais alguns prêmios, mas considero estes os mais importantes para mim. Ronald Theobald

Georges Racz > O nascimento de uma paixão

O que dizer de uma fotografia dessas?
Bem, tem alguma coisa com seus fundamentos.

Trata-se de um instantâneo absolutamente simples, que me atraiu porque gosto de gente e de samba.
Trata-se de um instantâneo sem impacto – mas real – ninguém pousou, provavelmente não percebeu. Esta é uma esfera exclusiva da fotografia... fixar numa fração de segundo a eternidade.
Quando fotografei a futura e poderosa escola de samba, quem o diria?...

Mesmo eu, com os olhos sensibilizados pela humilde e verdadeira paixão dos que lá estavam, num tempo em que os ranchos e grandes sociedades estrelavam o carnaval.


Escola de Samba Unidos da Tijuca – Rio de Janeiro, 1961


A fotografia tem muitas funções. Mas, algumas são especiais, porque registram a história e, em outras, a mudam, como as fotos de Lewis Hine sobre as horríveis condições de trabalho infantil nos EEUU no século 19.
Claro, este singelo instantâneo não tem esta importância.
Mas, para o historiador de amanhã poderá ser uma senda.

O mais importante é que de algo sem História saiu mais uma História.

Georges Racz > Fotógrafo e cineasta, nasceu na Hungria, em 1937. Formou-se em ciências sociais pela PUC-RJ em 1964, quando começou a carreira de fotógrafo e depois cineasta. Trabalhou como professor de sociologia, fotografia, cinema e artes visuais, implantando os cursos de fotografia do Museu de Arte Moderna RJ, que coordenou entre 1972 e 1976. Foi um dos criadores do grupo Photogaleria, em 1973, do qual foi presidente, teve atuação como crítico de arte, sobretudo na revista Visão, entre 1976 e 1990. Expôs com freqüência nas décadas de 70 e 80, tendo trabalhos seus nas coleções do MAM-RJ e do Museu Nacional de Belas Artes, RJ, e do The Art Museum of Chicago (EUA). Em pesquisa do Instituto Itaú Cultural sobre a fotografia no Brasil nos séculos XIX e XX foi incluído na seleção dos 80 mais importantes fotógrafos do século XX.

Héctor Etchebaster > Homenagem no mar

Tal como solicitara, estou-lhe enviando uma foto "Histórica".

Fundamentos:

Trata-se do barco brasileiro que participara da regata volta ao mundo Volvo Ocean Race, o que até o dia de hoje é um fato inédito, pois nunca houve barco brasileiro na mencionada regata.
E ainda temos ao fundo o helicóptero presidencial e a escolta sobrevoando o barco, homenageando a tripulação.
Dois fatos realmente inéditos.




A foto em questão, a meu ver, o que tem de histórico é que foi a primeira participação do Brasil. E por um acaso o presidente Lula desmarcou a visita programada na Marina da Gloria, e passou com seu helicóptero e escolta em forma de homenagem à tripulação.


Héctor Etchebaster > Nascido na Argentina, é um dos mais prestigiados fotógrafos náuticos da atualidade.
Com mais de quinze anos de atividade no segmento, registrou os momentos mais importantes das provas do Yachting mundial em águas brasileiras e internacionais.
Whitbread Around the World, Around Alone, Transat Jacques Vabre, Volvo Around the World, British Steel, Cape Town-Rio, Buenos Aires-Rio, British Telecom, Volvo Ocean Race e inúmeros campeonatos mundiais de classes olímpicas e pan-americanas são algumas das tantas provas cobertas para a mídia nacional e internacional pelo fotógrafo. Foi fotógrafo oficial por terceiro ano consecutivo do Match Race Brasil. Fotógrafo oficial do Time Brasil 1 na Regata Volvo Ocean Race 2005-2006.
É um dos responsáveis pelo sucesso da revista Velejar, na qual desempenhou, durante sete anos, a função de Diretor de Fotografia. Suas imagens podem ser encontradas nas páginas das mais prestigiosas publicações de vela das Américas, Europa e Austrália. Atualmente afastado das mesas de redação, trabalha em projetos pessoais.
Contatos: FOTOS DEL MAR – 55 21 8150 3301 e 55 21 2225 7939
Fonte: Assessoria de Comunicação THE BRAZILIAN TIMES, por Henrique Danowicz, danowicz@yahoo.com

Januário Garcia > Marcas do tempo

Esta foto foi realizada na cidade de Macuco, no interior do Estado do Rio de Janeiro.
A câmara que usei foi uma Mamiya RB67 com uma objetiva 127mm.

As culturas antigas, chinesa, árabe, indiana, africana, judaica, são civilizatórias. Elas procuram valorizar o ser humano, todas tem um dado comum: a valorização da criança e do velho. Afro-descendente que sou, desde cedo aprendi ter o respeito pelos mais velhos, e estes sempre chamaram a minha atenção, fotograficamente falando. É interessante que na cultura africana nós temos a figura do GRIOT, que é justamente o sábio da aldeia, que é sempre o mais velho.


Durante a minha vida profissional eu já fiz dezenas de fotos de idosos, mas essa foto é muito especial porque foi feita em uma comunidade de periferia de uma cidade do interior do Estado do Rio. Essa senhora nunca tinha sido fotografada na vida.





Essa foto pertence ao meu acervo de fotos do Movimento Negro que denominei de Documenta Brasileira de Matrizes Africanas. Foi iniciado em 1978 no Rio de Janeiro, mas hoje tem um grande arco de fotos de negros da América do Sul, América do Norte, América Central, Europa e África.

A foto em tese é a que chama mais atenção nas minhas exposições sobre o negro na diáspora. Ela tem provocado vários sentimentos e expressões nos seus leitores.

Não acredito que deveria ter feito algo diferente do que fiz, e se o fizesse não conseguiria atingir os objetivos.

Januário Garcia > começou como cinegrafista, mas tornou-se fotógrafo em 1975, ao estagia no estúdio de Georges Racz.
No fotojornalismo sempre atuou como freelancer, com passagens pelo Globo, Jornal do Brasil, O Dia, A Tribuna, Manchete, Fatos & Fotos e Revista da Unesco. Trabalhou também com grandes agências de publicidade do Rio de Janeiro e fez capas de discos de artistas como Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fagner, Belchior, Fafá de Belém, Lecy Brandão, Raul Seixas e Edu Lobo.
Desde 1976 participa do Movimento Negro, junto ao qual vem fazendo a documentação da presença da população negra no Brasil, no arquivo denominado Documenta Brasileira de Matrizes Africanas. Parte deste processo está resumido no livro “1980/2005 — 25 anos do Movimento Negro no Brasil”. Nos últimos anos estendeu este registro para toda a América Latina, resultando em outro livro a ser lançado ainda este ano. Tem também fotografado comunidades judaicas em várias partes do mundo.
Entre várias outras, apresentou no prédio da Secretaria-Geral da ONU, em Nova York, a exposição Retratos de um Povo: o Cotidiano da Vida dos Afro-brasileiros.
Fontes: http://www.januariogarcia.com/ e http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=2239

Luiz Carlos David > Asa-delta sobre o Cristo

Depoimento de Luiz Carlos David, gravado em vídeo em 20/04/2007.
O original encontra-se depositado no LABHOI - Laboratório de História Oral e Imagem - Depto. de História - UFF, Niterói - RJ.
Transcrição:

(...) Teve a foto de uma asa-delta passando pelo Cristo Redentor, que suscitou uma série de discussões a respeito da área de vôo, se era possível voar ali... O DAC suspendeu, suspendeu por algum tempo, o vôo de asa-delta aqui no Rio e fecharam a rampa...

(...) A da asa-delta... Bem, a da asa-delta, curiosamente, foi uma foto feita por tentativa. Esta foto... Foi num domingo, eu estava de plantão no jornal e me chamaram para olhar da janela e, lá longe, assim, no Cristo (da janela do JB dava pra ver), tinha umas 5 ou 6 asas voando em volta do Cristo. Muito bonito... Quer dizer, dava pra ver assim, de longe.
Aí, subi aquela escadaria toda... Cheguei lá, não tinha uma asa!...

E você escolheu algum material especial para levar?
Levei o equipamento básico. O equipamento básico que todo fotógrafo da época trabalhava. A objetiva maior que eu tinha era uma 200mm, entendeu? E foi com ela que eu fiz esta foto.
Então, como eu disse, cheguei lá, não tinha nenhuma asa voando, todo mundo tinha ido embora. Então, eu fiquei lá esperando pra ver se acontecia de eles voltarem. Demorou bastante, mais de uma hora, e eu lá esperando, e não apareceu mais ninguém. Eu resolvi ir embora. Mas, quando descia, sempre dava uma olhadinha pra lá, uma olhadinha pra cá, na esperança... “Não é possível, não aparece mais nenhum?”...
E numa dessas olhadas eu vi chegando uma, com uma térmica, procurando uma térmica ascendente. E ele conseguiu esta térmica e subiu. E aí ficou voando em torno do Cristo. Eu fiz um filme, praticamente, de fotos. Ele em cima da cabeça, ele pra lá, ele pra cá, voando...


E você concordou com a escolha desta foto para a primeira página, com a edição que foi feita? Eu concordei. Inclusive, eu me prendi muito por ela, porque tinha outras fotos muito interessantes, sabe?...
Tinha uma muito curiosa, dele, assim, como se estivesse circulando sobre a cabeça do Cristo, da estátua. Mas esta foto aqui me dava um gesto como se a mão estivesse liberando a asa para o vôo, né?, dando liberdade àquele vôo. Eu... Eu olhei esta foto, entre todas espalhadas em cima da mesa, eu, o editor e mais dois colegas, discutindo qual seria levada para a edição final. Então, levamos essa e mais duas, foram três fotos. E o editor-geral escolheu esta.
Ela tem esse movimento, esta mão estendida, como se estivesse... Como se a asa estivesse saindo daqui, como se a mão tivesse liberado o vôo da asa, soltando no [sentido] contrário da mão aberta.


Luiz Carlos David > começou cedo na profissão, graças ao pai, também fotógrafo. Entrou precocemente para o Jornal do Brasil, como estagiário, em 1970, onde esteve por mais de 15 anos. Trabalhou ainda na sucursal da Veja no Rio, na agência F4, na sucursal da Folha de São Paulo e, finalmente, no jornal O Dia, antes de se tornar free-lancer e se aposentar.

A série A História bem na Foto

Clique para acessar:

A História bem na Foto >
"Depoimentos exemplares":
Antonio Andrade e Campanella Neto
Depoimento do autor:
Aguinaldo Ramos > Brizola pula a fogueira

A História bem na Foto - 2 >
Vera Sayão > Brizola e o Beijoqueiro
Luiz Carlos David > O Papa no Aterro
Renan Cepeda > Polícia no Morro
Juvenal Pereira > JK nos Braços do Povo
Alcyr Cavalcanti > Desafetos Cordiais

A História bem na Foto - 3 >
Mabel Arthou > Mais um Domingo...
Antonio Batalha > Tancredo se despede
Silvana Louzada > Collor x general Tinoco
Américo Vermelho > O enterro de D. Lyda
Elisa Ramos > Deficientes físicos: superação

A História bem na Foto - 4 >
Zeca Guimarães > A dor de Tancredo
Antonio Scorza > Troféu de Guerra
Luciana Whitaker > Bala Perdida
Rogério Reis > O Poeta vira Estátua
Masao Goto Filho > Vitória nos Pênaltis
A História bem na Foto - 5 >
Sergio Araujo > Pulo para a morte
Gilson Barreto > O prédio cai
Walter Firmo > Um santo enternecido
Cristina Zappa > Na alma
Luiz Morier > Todos negros

A História bem na Foto - 6 >
Pedro Agilson > A chacina de Vigário Geral
Delfim Vieira > Seca no Ceará
Evandro Teixeira > Vinicius, Tom e Chico
Claudio Versiani > Taffarel e Baggio
Alex Ferro > Carnaval de Rua

A História bem na Foto - 7:
Américo Vermelho > A bunda da Abertura
Rogério Reis > Vavá encontra Magalhães Pinto
Alcyr Cavalcanti > Sexo na hora, na rua
João Roberto Ripper > Editando Diretas-Já!
Custodio Coimbra > A multidão das Diretas