O original encontra-se depositado no LABHOI - Laboratório de História Oral e Imagem - Depto. de História - UFF, Niterói - RJ.
Transcrição:
(...) Teve a foto de uma asa delta passando pelo Cristo Redentor, que suscitou uma série de discussões a respeito da área de voo, se era possível voar ali... O DAC suspendeu, suspendeu por algum tempo, o voo de asa delta aqui no Rio e fecharam a rampa...
(...) Bem, a da asa delta, curiosamente, foi uma foto feita por tentativa. Esta foto... Foi num domingo, eu estava de plantão no jornal e me chamaram para olhar da janela e, lá longe, acima, no Cristo (da janela do JB dava pra ver), tinha umas 5 ou 6 asas voando em volta do Cristo. Muito bonito... Quer dizer, dava pra ver assim, de longe.
Aí, subi aquela escadaria toda... Cheguei lá, não tinha uma asa!...
E você escolheu algum material especial para levar?
Levei o equipamento básico. O equipamento básico que todo fotógrafo da época trabalhava. A objetiva maior que eu tinha era uma 200mm, entendeu? E foi com ela que eu fiz esta foto.
Então, como eu disse, cheguei lá, não tinha nenhuma asa voando, todo mundo tinha ido embora. Então, eu fiquei lá esperando pra ver se acontecia de eles voltarem. Demorou bastante, mais de uma hora, e eu lá esperando, e não apareceu mais ninguém. Eu resolvi ir embora. Mas, quando descia, sempre dava uma olhadinha pra lá, uma olhadinha pra cá, na esperança... “Não é possível, não aparece mais nenhum?”...
E numa dessas olhadas eu vi chegando uma, com uma térmica, procurando uma térmica ascendente. E ele conseguiu esta térmica e subiu. E aí ficou voando em torno do Cristo. Eu fiz um filme, praticamente, de fotos. Ele em cima da cabeça, ele pra lá, ele pra cá, voando...
E você concordou com a escolha desta foto para a primeira página, com a edição que foi feita?
Eu concordei. Inclusive, eu me prendi muito por ela, porque tinha outras fotos muito interessantes, sabe?...
Tinha uma muito curiosa, dele, assim, como se estivesse circulando sobre a cabeça do Cristo, da estátua. Mas esta foto aqui me dava um gesto como se a mão estivesse liberando a asa para o voo, né?, dando liberdade àquele voo. Eu... Eu olhei esta foto, entre todas espalhadas em cima da mesa, eu, o editor e mais dois colegas, discutindo qual seria levada para a edição final. Então, levamos essa e mais duas, foram três fotos. E o editor geral escolheu esta.
Ela tem esse movimento, esta mão estendida, como se estivesse... Como se a asa estivesse saindo daqui, como se a mão tivesse liberado o voo da asa, soltando no [sentido] contrário da mão aberta.
Luiz Carlos David > começou cedo na profissão, graças ao pai, também fotógrafo. Entrou precocemente para o Jornal do Brasil, como estagiário, em 1970, onde esteve por mais de 15 anos. Trabalhou ainda na sucursal da Veja no Rio, na agência F4, na sucursal da Folha de São Paulo e, finalmente, no jornal O Dia, antes de se tornar free-lancer e se aposentar.